De um lado, Joan Crawford; do outro, Mercedes McCambridge.
Duas faces de uma mesma moeda: obstinadas, capazes de guiar e cativar os homens
à sua volta, pistoleiras de ocasião.
Instantes após o menino ferido (Ben Cooper) buscar refúgio
no saloon de Vienna, a turbe ensandecida, liderada por Emma, entra no recinto
querendo a cabeça de ambos. Vienna nega ter escondido o garoto, e é quando esta
começa a inflamar seu discurso moral, não coincidentemente chamando todos de
hipócritas, que o corpo do foragido se revela por debaixo de uma mesa.
Um pouco antes, o discurso moral era de Emma: quando se
descobre que ela tinha razão sobre o paradeiro do menino, após os homens que a
rodeavam não lhe darem ouvidos, ela reclama sua importância, enfurecida, e
assume definitivamente o comando do bando.
Em tempos que recusam nuances*, provavelmente deve ser um
choque para alguns o fato da heroína, mulher forte e independente, ser ela
também hipócrita, enquanto a antagonista, hipócrita, é também uma mulher forte
e independente.
Quando se compreende que essas designações são resultados de
seus gestos, e não de diálogos preguiçosos ou modorrentos, conseguimos, talvez,
medir a distância que singulariza um grande narrador.
*é preferível, por exemplo, que o vilão seja um mauricinho
(homem branco cis hétero...) que estudou business nos Estados Unidos, para
ficar no caso de um filme com o qual Johnny Guitar mantém algumas semelhanças
temáticas (e apenas temáticas).
Nenhum comentário:
Postar um comentário