sábado, 11 de abril de 2020

Johnny Guitar (Nicholas Ray, 1954)



De um lado, Joan Crawford; do outro, Mercedes McCambridge. Duas faces de uma mesma moeda: obstinadas, capazes de guiar e cativar os homens à sua volta, pistoleiras de ocasião.

Instantes após o menino ferido (Ben Cooper) buscar refúgio no saloon de Vienna, a turbe ensandecida, liderada por Emma, entra no recinto querendo a cabeça de ambos. Vienna nega ter escondido o garoto, e é quando esta começa a inflamar seu discurso moral, não coincidentemente chamando todos de hipócritas, que o corpo do foragido se revela por debaixo de uma mesa.

Um pouco antes, o discurso moral era de Emma: quando se descobre que ela tinha razão sobre o paradeiro do menino, após os homens que a rodeavam não lhe darem ouvidos, ela reclama sua importância, enfurecida, e assume definitivamente o comando do bando.

Em tempos que recusam nuances*, provavelmente deve ser um choque para alguns o fato da heroína, mulher forte e independente, ser ela também hipócrita, enquanto a antagonista, hipócrita, é também uma mulher forte e independente.

Quando se compreende que essas designações são resultados de seus gestos, e não de diálogos preguiçosos ou modorrentos, conseguimos, talvez, medir a distância que singulariza um grande narrador.

*é preferível, por exemplo, que o vilão seja um mauricinho (homem branco cis hétero...) que estudou business nos Estados Unidos, para ficar no caso de um filme com o qual Johnny Guitar mantém algumas semelhanças temáticas (e apenas temáticas).

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