sábado, 11 de abril de 2020

Dragged Across Concrete (Craig S. Zahler, 2018)


Que o Zahler é um cineasta limitado – basta perceber seu esquema geral de decupagem – e um bom roteirista – principalmente em matéria de diálogos – seus filmes já nos mostram. Dragged Across Concrete confirma a regra, mas aqui a limitação é substancialmente compensada pelo exercício com a luz (os amarelos que banham os corpos naquela atmosfera sórdida e crepuscular), com a cenografia (o palco de destruição esfumaçado no final) e com o trabalho dos atores (especialmente por parte do Mel Gibson e do Tory Kittles). Por outro lado, e curiosamente, essa inaptidão para operar recortes no espaço cênico deriva em planos gerais que acabam se adequando ao material dramático: vazios, pausas e zonas amplas de luz e sombra projetam e estendem os estados emocionais das personagens. Se o Zahler é consciente do próprio limite ou não, pouco importa; mas está lá o recuo paciente de sua câmera e a devoção ao roteiro que ele tem em mãos. Neste que é o seu melhor filme, ele se restringe ao essencial da ação, como se perseguisse sua vocação literária, mas ao mesmo tempo a insere no interior de blocos distendidos de tempo dos quais salta a impressão por vezes canhestra, por vezes interessante, de estarmos vendo um roteiro filmado – quando um romance como Mean Business on North Ganson Street, por exemplo, constantemente nos dá a impressão de estarmos lendo um roteiro literário. Neste último, entretanto, a experiência é muito mais interessante do que canhestra, o que talvez acrescente um ponto ao argumento de que o Zahler como cineasta é um bom escritor.


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