sábado, 2 de janeiro de 2016

Westbound (Budd Boetticher, 1959)




O que mais fascina neste belíssimo faroeste de Boetticher é menos a ação – apesar de sua frontalidade e sua economia inteligentíssima – do que certa condição de vida intrínseca e, diríamos, extrínseca ao filme. Quem são estas personagens, e o que exatamente as motivam? Não sabemos ao certo: a questão é complexa e não permite respostas claras. Sabemos que o capitão John Hayes (Randolph Scott), homem de bravura e paixões resignadas, foi em determinado momento apaixonado por Norma (Virginia Mayo). Hoje, enquanto a assiste rumar ao Leste sob um semblante solitário, promete à Jeanie (Karen Steele), a viúva supostamente dividida, que retornará de tempos em tempos. O que teria levado Hayes a deixar Norma tomar aquela caravana? E Jeanie, teria ela se apaixonado por Hayes ainda quando era casada com o jovem Rod Miller (Michael Dante), companheiro sem braço do capitão, morto em combate? Há ainda Clay (Andrew Duggan), o marido de Norma, traidor da União e agora simpatizante da causa sulista. Como, afinal, teria se sucedido este caso de amor de interesses egoístas e paixões inesperadas? 

Não há certezas, apenas hipóteses. No interior mesmo deste modelo objetivo e econômico, algo ultrapassa o plano e a própria construção. Boetticher é um destes grandes mestres capazes de nos apontar, precisa e calorosamente, que apesar de atravessado pela organicidade da vida, da guerra e das paixões, o filme é ainda um fragmento dela: o que há antes e depois desta breve hora pela qual o filme transcorre, cabe apenas a nós o poderio de conjurar.